Esquiva saiu do ringue contrariado. Os dois mereciam levar punição, pedia. Reclamou, ficou triste e, só então, decidiu tentar esquecer. E curtir a medalha, histórica.
- Tomei a punição e não achei justa. Os dois estavam agarrando. Os dois estavam cansados no finalzinho. Ele foi favorito, era medalha de prata no Mundial, e isso me desfavoreceu mais ainda. Foi um pontinho que o chefe tirou de mim. Infelizmente, hoje não deu. Não estou triste, entrei para a história com a prata. Estou muito feliz com meu resultado. O ouro não veio, mas a prata está valendo ouro. Minha cidade deve estar em alegria, a galera deve estar feliz. Quando eu subir no pódio vai cair a ficha. O voo direto agora é de volta para o Brasil, para o meu pai, minha mãe e minha namorada. É uma medalha que foi ganha e meu filho vai ficar muito feliz também - disse ao Sportv.
O Brasil não conquistava uma medalha olímpica no boxe desde os Jogos da Cidade do México, em 1968, quando Servílio de Oliveira foi bronze no peso-mosca. Em Londres 2012, a melhor campanha da história, com três medalhas. Além da prata deste sábado, Adriana Araújo ficou com o bronze na estreia do boxe feminino em Olimpíadas e Yamaguchi Falcão - irmão de Esquiva - também garantiu o terceiro lugar na categoria meio-pesado.
Irmãos Falcão, a saga
Yamaguchi estava ali, na arquibancada. Touro Moreno, o pai obstinado que driblou todas as dificuldades possíveis por um sonho, quase chegou a tempo para ver tudo de pertinho. Recebeu um convite de véspera, mas, sem passaporte, ficou mesmo no Brasil.
A saga dos Falcão. Quase um filme. A mais genuína das muitas histórias do país em Londres. No ringue, uma letra, em um gesto com os braços, a resume: "T". Para contá-la em palavras, as frases por vezes saem truncadas, interrompidas pela emoção e pelo que a infância pobre os abnegou. Esquiva e Yamaguchi não precisam de muito vocabulário para contar o que sentem. Só querem retribuir, a cada luta, a cada vitória, a insistência do velho pugilista. Lutam por um ideal, por um sonho construído antes mesmo de eles nascerem.
- Quando o Touro fala alguma coisa, não se engana - diz Yamaguchi.
Todas as vezes que Touro Moreno, ex-lutador, hoje aos 75 anos, caminhou até o telefone público da rua para falar com os filhos, fez das palavras injeção de ânimo. Lembrava que tinha levado a Londres duas cartas e que uma delas iria brilhar. As duas brilharam. Classificados às semifinais, os dois não esmoreceram. Não se satisfaziam com os dois bronzes. Ali, já tinham entrado para a história. Quebravam, junto com Adriana Araújo, um jejum de 44 anos sem medalhas para o país no boxe.
Yamaguchi garantiu sua medalha depois de uma vitória épica sobre o atual campeão mundial, o cubano Julio La Cruz Peraza. Depois, perdeu para o britânico Anthony Ogogo. Restava a ele o bronze. Derrotado, agradeceu a cada um dos quatro setores da arquibancada. Voltará àquele palco no domingo, para o pódio, no Dia dos Pais.
Para Esquiva, as Olimpíadas começaram depois. O sorteio das chaves favoreceu, e ele descansou na primeira rodada. Com a vaga direta nas oitavas, o capixaba não tomou conhecimento de Soltan Migitinov na estreia. Ele venceu o atleta do Azerbaijão por 24 a 11 e garantiu presença nas quartas. No caminho para a medalha olímpica estava o húngaro Zoltan Harcsa. Nova vitória (14 a 10), a vaga na semi e, pelo menos, o bronze garantido. Mas Esquiva queria mais. Lutando contra a torcida local e contra Anthony Ogogo, ele ganhou a luta (16 a 9) e os britânicos, que se renderam a ele.
A luta da prata
Nas arquibancadas do Complexo Excel, o carinho do irmão Yamaguchi e o apoio dos torcedores britânicos. No Brasil, a torcida de familiares e amigos no Espírito Santo.
Guardas fechadas e cautela. A luta que definiu o campeão dos pesos-médios começou com os dois atletas se estudando muito. Enquanto o japonês tentava encurtar a distância, o brasileiro buscava atacar. Mas foi Murata que acertou um bom cruzado para abrir vantagem de dois pontos no primeiro round: 5 a 3.
Em desvantagem, Esquiva partiu para o ataque. O japonês fechou bem a guarda e evitou os golpes. O juiz chamou a atenção do brasileiro por abaixar a cabeça e agarrar o adversário. Mas o capixaba continuou a atacar e diminuiu na diferença no placar para um ponto: 5 a 4 no segundo assalto.
A decisão ficou para o terceiro e último round. Esquiva perdia a luta por um ponto, mas sofreu um golpe forte logo no início do período. Não veio do japonês, mas do juiz, que puniu o brasileiro por agarrar o rival. Dois pontos de graça para o vice-campeão mundial Murata. Esquiva precisava, então, tirar três pontos de vantagem. Ele correu atrás, encurralou o japonês nas cordas, mas só conseguiu fazer 5 a 5 no round final - o que não foi suficiente para a virada.
- Fiquei triste por ter perdido pelas mãos do árbitro, mas depois logo fiquei feliz. Eu e meu irmão fizemos história aqui.
By: sportv.com.br







Nenhum comentário:
Postar um comentário